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A história do ex-refugiado que ganhou o Oscar


"Mãe, acabei de ganhar um Oscar! Dizem que histórias assim só acontecem em filmes. Eu não acredito que isso está acontecendo comigo."


Esse foi o discurso do emocionado ator Ke Huy Quan na noite de domingo (12/3), durante a 95ª edição do Oscar, em Los Angeles.


Depois de agradecer à mãe e ao restante da família, o ator vietnamita-americano dedicou o prêmio à esposa.


"Devo tudo ao amor da minha vida, minha esposa, Echo, que me disse mês após mês, ano após ano, que um dia minha hora chegaria", disse ele.


"Para todos vocês, por favor, mantenham vivos os seus sonhos. Obrigado por me aceitarem de volta."

Uma história emocionante


A história pessoal de Quan é uma das mais incríveis do Oscar deste ano.

Quan tinha sete anos quando deixou o Vietnã em um barco apertado no final dos anos 1970, desembarcando em Hong Kong com seu pai enquanto sua mãe e três irmãos foram para a Malásia.


A família se reuniu quando migrou para os Estados Unidos em 1979, uma mudança que ele disse ter sido "traumática".


"Nós éramos refugiados", disse Quan ao jornal britânico Guardian no ano passado. "Ninguém nos queria... Eles nos chamavam de 'recém-saídos do barco'. Eles zombavam de nós quando estávamos na escola. Você pode imaginar o que isso faz com o estado mental de uma criança."


Sua vida mudou quando ele foi dar apoio a seu irmão mais novo em um teste para Indiana Jones aos 12 anos. Quan não pretendia fazer o teste, mas o diretor de elenco sugeriu que ele também tentasse.


Steven Spielberg o escolheu para atuar em um dos principais papeis de Indiana Jones e o Templo da Perdição, de 1984.


Três semanas depois, Quan estava a caminho do Sri Lanka para começar a rodar o filme. "Foi um dos momentos mais felizes da minha vida", disse ele.


Nos últimos anos, o filme recebeu críticas pela forma que retrata culturas orientais, mas Quan acredita que o diretor Steven Spielberg merece crédito.


"Spielberg foi a primeira pessoa a colocar um rosto asiático em um blockbuster de Hollywood", disse ele. "[O personagem] Short Round é engraçado, ele é corajoso, ele salva Indy."


Seu outro papel famoso da época foi como Data, o engenhoso menino do filme de 1985 Os Goonies, ao lado de jovens estrelas como Sean Astin, Josh Brolin, Corey Feldman e Martha Plimpton.


Mas no final dos anos 1990 ele largou a carreira de ator, quando não conseguiu mais encontrar trabalho.

Ele atuou em sitcoms, mas nos anos 90, as ofertas de emprego começaram a diminuir. Todos os papéis enviados a ele eram pequenos e estereotipados.


"É sempre difícil fazer a transição de um ator infantil para um ator adulto", disse ele ao Telegraph. "Mas quando você é asiático, isso é cem vezes mais difícil.


"Se você pegasse 100 roteiros, havia uma grande probabilidade de que nenhum deles apresentasse nenhum personagem asiático significativo. Na maioria das vezes, éramos o alvo da piada. O início dos 20 anos deveria ser os anos dourados na vida, mas tudo o que fiz foi esperar o telefone tocar."

Foi quando ele desistiu de atuar "por muito, muito tempo", até que viu um filme de 2018 chamado Asiáticos Doidos e Ricos.


"Percebi que o panorama estava mudando e uma noite conversei com minha esposa. Disse a ela que queria voltar a atuar", lembrou.


"E quando o medo do arrependimento superou qualquer medo de voltar, foi quando eu decidi: eu tenho que fazer isso."


"Lembro de ter visto aquele filme no cinema três vezes. Chorei todas as vezes", disse ele.


"Chorei porque era um filme tão bonito, mas também chorei por um motivo diferente — tive um sério FOMO [fear of missing out, ou medo de estar perdendo algo]. Queria estar lá junto com meus colegas atores asiáticos.


"Foi aí que começou a surgir a ideia de voltar às minhas raízes."


Duas semanas depois, como um sinal do destino, ele recebeu uma ligação para fazer parte de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo.


Quando ele recebeu o roteiro do filme, ele não imaginou que isso o rendesse um Oscar.


O filme era fantástico demais. É uma mistura de drama sobre uma família de imigrantes, aventura de ficção científica maluca e filme de ação de super-heróis.

Quan interpreta Waymond Wang, o marido de uma gerente de lavanderia (Michelle Yeoh) — bem como várias versões de Waymond em universos alternativos.


Ele disse que não tinha certeza de como os espectadores reagiriam ao ver uma ex-estrela mirim como um homem de meia-idade.


"Eu tinha 50 anos quando decidi voltar a atuar", disse ele ao jornal americano Los Angeles Times.


"Foi preciso coragem para dar voz a esse sonho que tive, um sonho do qual tive que me afastar, e não achei que encontraria o caminho de volta."


Em uma reviravolta do destino, foi um de seus antigos colegas de elenco que o ajudou a garantir seu papel de retorno.


Jeff Cohen, que interpretou Chunk em Os Goonies, hoje trabalha como advogado e ajudou Quan a negociar seu contrato. O produtor do filme disse "nunca imaginou que teria que falar com Chunk e Data para seu filme".


Em seu discurso, no domingo, Quan disse: "Minha mãe tem 84 anos e está em casa assistindo. Mãe, acabei de ganhar um Oscar!"


"Minha jornada começou em um barco. Passei um ano em um campo de refugiados e de alguma forma acabei aqui no maior palco de Hollywood."


Antes da cerimônia do Oscar, o ator contou à BBC sua alegria com o sucesso do filme.


"O que ressoou nas pessoas foi a mensagem do filme. É [um filme] sobre bondade, é sobre amor, é sobre família, é sobre empatia", disse ele.

Quan acredita que não teria conseguido interpretar seu personagem, Waymond, se tivesse escolhido um caminho diferente na vida.

"Eu precisava de todas aquelas experiências de vida pelas quais passei todos esses anos."


"Eu estava preocupado em fazer 60 anos e olhar para trás e dizer: 'Uau, como é que eu não tive coragem de voltar a atuar?'"


*BBC

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